Casos clínicos que foram acompanhados e que fazem reflectir
Os casos clínicos em psicologia são inúmeros, dos mais graves aos mais ligeiros. Talvez fosse oportuno partilhar algumas situações que foram acompanhadas de forma a informar que certas situações e outras semelhantes podem ser facilmente resolvidas, algumas até em poucas sessões, impedindo o arrastamento de mal-estares inúteis. Ao mesmo tempo com estes casos, aproveito para realçar que situações deste género podem ser evitadas se os pais ou os adultos próximos de uma criança/jovem estiverem melhor preparados para apoiar um desenvolvimento psicológico mais saudável que permita ao indivíduo um melhor amadurecimento. É este um dos objectivos que se procura atingir com as formações e com consultas mais personalizadas que tenho promovido.
Algo que antigamente por muito bons que os pais fossem ou desejassem ser não tinham disponível!
Por questões de ética e para preservar a confidencialidade, todos os nomes descritos nestes casos clínicos são fictícios donde qualquer semelhança verificada é pura coincidência.
1ª Caso Clínico (… um rapaz que desafia sempre a mãe, nomeadamente à noite, na ida para a cama)
Carla, mãe do Rui (9 anos), queixa-se que quando chega a hora de ele ir para a cama: começa a “guerra”. Quando chega este momento a Carla faz-lhe as recomendações do costume: desligar a televisão ou o computador, lavar os dentes, mas ele ignora-as sistematicamente. A Carla vai insistindo, aumentando até o tom de voz, mas é inútil, ele pura e simplesmente não obedece. Quase sempre a Carla vai ao ponto de desligar a televisão, ao que o Rui sempre se opõe, acabando por ir para a cama a chorar. A Carla, com esta situação quase diária, sente-se cada vez mais cansada, chegando até a ficar com fortes dores de cabeça. Evita recorrer à intervenção do marido porque este tem o costume de tratar tudo sempre aos gritos, com ameaças de bater o que vem sobrecarregar o ambiente, já de si pesado. Por outro lado, ele até prefere que seja a Carla a tratar do assunto.
A Carla, ao descrever-me o historial do filho, conta que, geralmente, ele está bem disposto durante o dia, mas resiste sempre aquilo que lhe é imposto. É o tipo de rapaz que gosta de contrariar os pais, ou seja “ser do contra”. A Carla faz-lhe tudo, não lhe falta nada em casa, tem sempre tudo pronto, e só mesmo aquilo que de momento não é possível comprar é que não compra, mas mesmo assim os avós sempre vão dando a sua ajuda nessas situações, às vezes até comprando coisas supérfluas. A Carla sente-se psicologicamente desfeita. Não entende como é que um rapaz a quem nada falta se comporta desta maneira. Ela acha que não merecia passar por esta situação.
2º Caso Clínico (… a consequência na vida adulta de um indivíduo que enquanto criança teve um pai tirânico e uma mãe passiva)
Paulo, de 34 anos, actualmente casado, declara que teve um pai que lhe batia com frequência quando era criança e queixa-se de que a mãe nunca interveio para o proteger. Muitas vezes, ela assistia passivamente a estas situações sem fazer nada, apenas lhe dizia, quando tudo acabava, que o que tinha acontecido não era grave porque o pai gostava dele na mesma. Desta forma, grande parte da sua infância, foi vivida sempre com a esperança de que um dia a mãe deixaria o pai. Mas, esta esperança nunca se concretizou e o ódio pela mãe foi-se acumulando ao longo dos anos. Ele nunca teve a possibilidade de se libertar desse ódio. Actualmente, o Paulo tem a sensação que este ódio está na origem dos conflitos com a sua mulher, ao ponto de ter a impressão de a confundir com a própria mãe.
O Paulo já pensou várias vezes em revelar esta situação à mãe, mas receia magoá-la, porque ela sempre foi uma pessoa que não se abria facilmente e, ao mesmo tempo, nunca soube de que lado é que a mãe estava, ou seja, se do lado do pai ou do lado dele. Ele, no seu íntimo, por recear o pai, já conseguiu romper os laços com ele, mas com a mãe não é capaz de o fazer pois mantém a sensação que a deve proteger. O Paulo, então, por se sentir numa confusão completa decidiu pedir ajuda psicológica.
3ª Caso Clínico (… dificuldade em desfrutar a relação conjugal)
Carla, de 30 anos, inteligente e aparentemente cheia de vida, bem consciente do que fazia, escolheu casar com um homem que não amava e divorciou-se, anos mais tarde, por estar arrependida de se ter casado com ele, dizendo que a sua vida não lhe fazia nenhum sentido. Na consulta, ela afirmou que se casou por ter tido medo de ficar sozinha e uma vez que tinha encontrado alguém que se interessava por ela não quis deixar escapar esta oportunidade. Ao mesmo tempo foi sempre uma pessoa indecisa e deixou-se levar para não assumir responsabilidades. Houve momentos em que perguntava a si própria se não merecia melhor ou se algum dia seria capaz de encontra outra pessoa melhor do que este homem que a amava. Por se sentir confusa pediu ajuda psicológica.
4º Caso Clínico (… uma mãe com dificuldades na relação com o filho)
A Sara, de 29 anos, casada, com um filho de 4 anos, pediu ajuda psicológica porque se enfurece facilmente quando ele não faz o que ela lhe pede. A Sara sempre teve dificuldade em lidar com o filho. Aos seis meses, a criança já tinha sido entregue a uma ama durante três semanas, que a deixava chorar sozinha no berço. Hoje, a Sara sente-se envergonhada por ter entregado o bebé à ama, por ter tido esta “fraqueza”, mas naquele momento não sabia mais o que fazer.
A Sara não se lembra de ter muitas boas recordações da infância, a não ser algumas fotografias. Não se recorda se os pais lhe batiam, apenas se lembra que o pai gritava muito quando não se fazia o que ele queria. Lembra-se, também, que o pai a obrigava a comer a carne, que detestava e, para o pai não se aperceber, ficava com ela na boca durante muito tempo, por vezes até horas, para não desobedecer ao pai. Sara ouvia muitas vezes os pais dizerem entre si, que ela era uma criança difícil, impertinente, resmungona e que nunca estava contente com coisa alguma. Hoje, Sara tem a sensação de que não foi a pessoa que deveria ter sido, apesar de ter feito os estudos e ter seguido a carreira profissional que o pai lhe tinha indicado. Durante a adolescência, Sara teve muitas contendas com os pais e com o irmão, chorava muitas vezes sozinha, no quarto, por recear desabafar com a mãe e que ela acabasse por a criticar. Recorda-se de um dia a mãe lhe ter dito, com desfaçatez, com um sorriso irónico, que ela tinha sido uma filha má, porque a mãe tinha tudo programado para um parto normal e que acabou por ter sido de cesariana, método que ela sempre detestou e que recusava para si própria.
Depois do filho ter nascido, Sara desabafava com a mãe queixando-se que o bebé chorava muito de noite. A mãe de Sara era muito evasiva na resposta que dava à filha, dizia que não fazia ideia porque é que a criança chorava, uma vez que a Sara nunca chorava quando tinha essa idade. Quando, ocasionalmente, a criança chorava na presença da avó, esta dizia que isso não tinha importância, que a criança estava a fingir da mesma forma que a mãe o fazia nessa idade. A Sara reconhece que tem muitas vezes dificuldade em descrever o que sente, a não ser que tem um certo mal-estar, mas que tem a sensação de que detesta os pais, o que a faz sentir-se mal porque não corresponde à norma que é… gostar dos pais. Por outro lado, Sara também não gosta de deixar o filho com a mãe.
5º Caso Clínico (… na vida adulta a ausência de sentido existencial, quando aparentemente tudo parece perfeito)
A Andreia tem 28 anos e sente-se aborrecida com a vida, acha-a vazia, sem sentido nenhum. No fundo, o seu paradoxo reside em achar que ela não deveria ter razão de queixa em relação a muitas pessoas que gostariam de estar no seu lugar (mulher bonita e elegante, casa e carro pagos, emprego estável, bom ordenado, relação conjugal aparentemente satisfatória e sem filhos ainda para a preocupar).
A Andreia diz que na sua infância e na sua adolescência os pais foram simpáticos e afectuosos para com ela. Em casa, o ambiente sempre foi agradável e sem problemas financeiros. Ela tirou um curso superior, viajou por vários países, conseguiu um bom emprego e vive actualmente uma relação conjugal sem, por enquanto, querem ter filhos. Os seus pais, segundo a Andreia, eram demasiados perfeitos, toda a gente os admirava. Todos diziam que ela tinha muita sorte por ter tido pais como eles.
Ao longo da sua vida, a única coisa que a Andreia acha que se calhar lhe faltou seria o de não ter tido espaço suficiente para se opor aos pais, para se afirmar como pessoa, por ter tido tudo sem o pedir, por tudo lhe ter sido planeado sem a sua interferência, de não ter podido reflectir mais naquilo que realmente queria, nunca lhe foi dada a oportunidade de lutar por algo. Tudo lhe aparecia sem ter que se esforçar.
6º Caso Clínico (…a origem da atracção por alguém específico e a seguir os desentendimentos do casal)
Fernanda, 30 anos, pede ajuda por não suportar mais a indiferença do Pedro, o seu parceiro conjugal com 33 anos. Ela queixa-se de ele ser demasiado frio e de não saber comunicar com ela. Cada vez que ela quer desabafar algo com ele, ele tenta logo racionalizá-la ou interrompe a conversa e refugia-se naquilo que gosta mais de fazer: ir jogar às cartas com os amigos ou ver a televisão. Pedro acha a Fernanda demasiado faladora por coisas que não valem a pena, futilidades a maior parte das vezes. Acha-a, igualmente, exigente, controladora e para não entrar em conflito com ela refugia-se no silêncio. Esta atitude, por parte dele, é encarada pela Fernanda como uma forma de indiferença, fá-la cair no desespero e perder a confiança na sua relação.
Ao longo da consulta, a Fernanda conta que sofreu na sua infância de uma espécie de ausência do pai, apesar de ele estar diariamente presente em casa. Ela nem consegue explicar bem isso e procura na companhia do Pedro sentir-se segura, de sentir que tem valor como mulher na relação com ele. Pedro, pela sua vez, diz que a sua mãe abafava-o demais, estava sempre a controlar o que ele fazia, ela receava sempre que algo de mau pudesse acontecer ao filho. Ele sentia-se como que numa prisão e empreende na ideia de que a Fernanda pretende também controlar a sua vida.
7º Caso Clínico (… uma senhora realizada profissionalmente, mas que não consegue sentir-se bem na vida)
Maria, de 43 anos, não consegue perceber porque não consegue desfrutar a vida, de se sentir bem com ela própria, apesar de ter conseguido sucesso profissional e financeiramente. Ela é muito perfeccionista, está sempre a criticar-se e a desvalorizar-se. Durante a consulta, ela conta que se lembra de uma situação, enquanto criança, de ter tirado 20 escudos para ir comprar uns rebuçados. O pai apanhou-a com o dinheiro na mão, gritou com ela e chamou-a de ladra. Esta cena fui tão violenta que a marcou profundamente, sentiu-se tão humilhada que é como se tivesse, desde daí, enraizado nela que não merecia, que não era digna, de ter a confiança dos pais.
8º Caso Clínico (… uma senhora realizada social e profissionalmente, mas que se obstina em manter uma relação com um homem que não a ama e que a maltrata)
Paula, de 36 anos, vive num contexto de violência doméstica e não consegue largar o homem com quem vive há vários anos e que não a ama. Ela possui uma vida social e profissional equilibrada, mas tem uma extrema fragilidade afectiva. Não consegue finalizar o processo de luto das rupturas amorosas anteriores, ultrapassá-las e, constantemente, “remói” o horror da possibilidade de ser abandonada. Sente-se humilhada, ao ponto de perder a sua dignidade, ela tudo faz para não ser ignorada pelo homem que ama, mesmo sendo atormentada por ele violentamente. Mesmo assim, ela ainda prefere a violência à indiferença, permanecendo escrava de uma relação insatisfatória apesar de ser uma mulher de aparência “livre.” Sem energia, ela encontra-se prostrada nas suas angústias e na sua solidão, agarra-se aos momentos e às emoções agradáveis vividas no passado com esta relação. O vislumbrar uma possível separação provoca nela uma enorme ferida no seu amor-próprio que faz com que não consiga sair desta situação e que a desorienta totalmente.
Qual foi uma das principais causas que se verificou e se analisou? A Paula revive o eco de uma ruptura afectiva que ocorreu nos primeiros anos de vida que tenta colmatar na idade adulta. Ela procura, e vive através deste homem, substituir a protecção familiar que não teve, agarrando-se inseparavelmente a ele numa necessidade de segurança através deste frenético amor impossível que a arrasta para atitudes masoquistas. Convencida que o homem com quem ela está a viver é que lhe pode satisfazer a sua falta de afecto, não se apercebe que afinal, é uma figura muito próxima da sua infância que a marcou e que a “empurra”, inconscientemente, para manter esta relação descabida.
Apoiando-me nestes casos pretendo defender que a psicologia clínica não é apenas para avaliar e para tratar casos patológicos graves.
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