Crianças e jovens com um desenvolvimento psicológico mais saudável só traz vantagens!

Os juízos de valor, nas relações, separam as pessoas

By Antonio Valentim • November 4, 2015 • Filed in: Ansiedades, Para um Equilíbrio Psicológico

O que revelam os juízos de valor sobre a pessoa que os expressa? Donde provém a tentação de ajuizar alguém? Qual é o benefício a curto prazo e quais são as desvantagens a longo prazo? Porque é que o ato de ajuizar diz mais sobre a pessoa que ajuíza do que sobre aquela sobre quem recai o juízo? Então, como abordar alguém sem o ajuizar? O que se poderá melhorar em cada pessoa?

Para começar, pode afirmar-se que os juízos de valor traduzem a forma de ver daquele que os expressa e não a realidade objetiva a quem é dirigido. Pode também dizer-se que a fonte desta tentação de querer ajuizar indica angústia perante a complexidade da vida e o receio de perder o controlo sobre o nosso meio envolvente incluindo as pessoas próximas. Os juízos de valor, as críticas, as etiquetas, envolvem a subjetividade da pessoa que as exprime. É verdade que categorizar, qualificar e comparar traz alguma tranquilidade, mas é mais uma ilusão que complica a relação com os outros e mesmo a vida da própria pessoa que os exprime.

Porque é que é importante tentar não emitir juízos de valor? Porque ajuizar, categorizar e criticar separa as pessoas, impede a harmonia entre elas, envolve ainda mais sofrimento inútil. Em vez de aproximar as pessoas torna incómoda a relação entre elas. Como manter então uma relação sã, se inconscientemente com a sua atitude, se está a afastar da pessoa?

Quando se ajuíza alguém entra-se numa relação de poder que não é confortável para ninguém, nem para o submisso, que se infantiliza e se desresponsabiliza, nem para quem faz o juízo que tem de controlar o outro, sempre receando não o conseguir, o que o levaria forçosamente a uma perda deste controlo e a uma insegurança, bem como à acumulação de frustrações por não conseguir sempre submeter o outro. É praticamente impossível andar sempre a controlar alguém sem correr o risco de tornar a sua própria vida infernal, porque quem é alvo de juízos de valor, se não se submeter ou se cansar disso, revolta-se e procura defender-se. A pessoa que é alvo dum juízo de valor sente-se agredida porque é atacada ao nível da identidade e dos valores pessoais sentindo-se ferida. 

Além disso, repare, por exemplo, que a definição de preguiçoso, de idiota, varia duma pessoa para a outra. Mesmo quando um juízo de valor é partilhado pela maioria não significa que corresponda da mesma forma a todas as pessoas. Vejamos um outro exemplo: o que uma pessoa considera algo de dispendioso para ela pode não o ser para outra. Todos os juízos de valor que nós utilizamos, com alguma satisfação, são imprecisos e ambíguos. Os seres humanos são profundamente imprevisíveis e ninguém pode ser inteiramente bom ou mau. Toda a complexidade das motivações humanas nunca se encaixa numa simples palavra. Uma palavra estática nunca transcreve com fidelidade a sua realidade dinâmica, nunca relata a flexibilidade da vida nem a riqueza do ser humano.

Ainda mesmo com boas intenções, a manifestação de um juízo de valor pode ter o efeito contrário na outra pessoa. Em vez de a levar à mudança, desmotiva-a. Repare que a desmotivação, em si própria e nos outros, é uma atitude das mais destrutivas na personalidade da pessoa. Quem é que consegue desenvolver o seu potencial humano saudável quando mergulha num desânimo?

Qualquer juízo de valor refere-se à própria pessoa que o expressa ou pode referir-se também à ideia, ao preconceito que se tem sobre um determinado assunto. Revela todo um paradoxo sobre quem o afirma. Pensa-se que, quando se faz um julgamento, se tem a sensação de se estar a expressar algo de real, de evidente, quando na verdade, se está a emitir apenas a sua própria opinião sobre uma outra pessoa.

Vejamos como é que cada juízo de valor emitido, quer seja agradável ou não, pode conter uma informação sobre a pessoa que a pronuncia. Todavia também se vai ver igualmente que não é por se emitir um juízo de valor sobre alguém que vai significar que ela possa ser uma pessoa melhor ou pior, é simplesmente diferente ou até se pode notar apenas algo igual. Ajuíza-se os outros porque cada um aprendeu e desde muito novo a ser ajuizado pelos outros. Mas o mesmo é valido no sentido contrário, ou seja, é por cada um se ajuizar a si mesmo que acaba por ajuizar os outros também.

Qual será a informação que se pode deduzir sobre a pessoa que emite um juízo de valor agradável?

Usualmente os juízos de valor agradáveis que se expressam sobre alguém, referem-se às qualidades que a própria pessoa pensa possuir. Por exemplo, ao dizer que o Pedro é simpático, pode-se entender: gosto do Pedro porque é simpático como eu. É muito raro ouvir alguém dizer o mesmo no sentido inverso, ou seja, Pedro é simpático ao contrário de mim, que sou antipático, ríspido e frio.

Os juízos de valor agradáveis que se expressam podem também indicar uma qualidade ausente na própria pessoa que a emite e que gostaria de a ter, mas que aparentemente não a tem mas não sofre por isso. Por exemplo, posso dizer que a Ana canta muito bem ou que o João tem muita destreza manual. São qualidades agradáveis que eu gostaria de ter, mas estou ciente que não se encontram ao meu alcance. De certa forma, é como se tivesse feito o “luto” delas e as tivesse “largado-da-mão”.

Qual será a informação que se pode decifrar sobre a pessoa que emite um juízo de valor desagradável?

Ao contrário dos juízos de valor agradáveis que focam sobretudo as semelhanças entre as pessoas, os desagradáveis mostram as diferenças que existem entre elas. Aqui apresentam-se duas hipóteses possíveis:

– Na primeira hipótese, a pessoa que ajuíza observa no outro o que ela também possui no seu interior e que não quer revelar de forma alguma. Tudo fará para o conter, controlar e negar. O outro interveniente funcionaria então como um espelho onde a pessoa que ajuíza é obrigada a ver o que tanto combate e que tenta aniquilar há anos nela própria. Daí ser um julgamento tão desagradável sobre o outro. Desta forma, ao ajuizá-lo desagradavelmente significa que o outro é mesmo assim, e não de forma alguma eu. Assim, projeta no outro o que não quer aceitar nele próprio. O outro é que é assim porque foi apanhado em flagrante. Eu sou mais forte e resisto. Perante esta hipótese a pessoa terá a tendência para se sentir superior ao outro. Quais são as consequências disso nas relações? Nas relações, estas atitudes desencadeiam sentimentos desagradáveis, como por exemplo, a vaidade, o orgulho doentio, o desprezo, o ódio e que conduzem ao insulto, à dominação, à humilhação, à ameaça, ao afastamento. É uma violência à pessoa e à dignidade humana porque tenta impor uma opinião contra a vontade do outro.

Vejamos nesta primeira hipótese alguns exemplos de significados inconscientes possíveis com os quais a pessoa que os exprime pode ser sensível:

– “És preguiçoso!” Pode-se traduzir que tu não te esforças como eu, como eu sempre o fiz.

– “O Joaquim é muito inflexível e duro.” Significaria que eu sou mais adaptável, permissível, perante novas situações e lutei muito para isso.

– “A Maria é esbanjadora… gasta muito dinheiro.” Significaria que eu é que faço tudo para poupar, sofro com isto, mas suporto e não aceito ver pessoas a fazer o contrário de mim.

 – Um pai que desde muito cedo começou a ganhar a vida vai obrigar o seu filho a assumir rapidamente as suas responsabilidades dizendo-lhe: “com a tua idade eu já me desembaraçava sozinho!” Ou seja, inconscientemente, eu não tolero que sejas diferente de mim.

Para quem toda a vida se esforça ou melhor dizendo se obriga, a não ser preguiçoso, a não ser flexível, a ser poupado, a ser mais cedo responsável quando é confrontado com estes temas mais facilmente é sensível, reagindo desfavoravelmente perante alguém que demonstra o que não quer ver. Quanto mais a pessoa for chegada mais difícil se torna reconhecer a situação.

– Na segunda hipótese o juízo de valor desagradável foca algo que a pessoa não tem mas que gostaria de ter ou de alcançar e sofre por não o conseguir. Vejamos, igualmente para esta segunda hipótese, algumas situações possíveis:

– “A estúpida da Sandra foi promovida.” Pode deduzir-se que eu também queria ser promovido.

– “O Pedro é um infiel.” Significaria que no fundo eu também gostaria de ser como ele mas que não consigo sê-lo e agarro-me aos valores para não me destabilizar.

“O Paulo é um sortudo.” O significado inconsciente é a pessoa vê no outro o que ela própria desejava para si mas que não consegue.  

Aqui também quais serão as consequências nas relações? Nas relações, estas atitudes desencadeiam sentimentos desagradáveis, como por exemplo: a inveja, a injustiça, a raiva, a ansiedade. Perante esta hipótese a pessoa terá a tendência para se sentir inferior ao outro. Tanto numa hipótese como na outra há sempre o desequilíbrio entre as pessoas que não possibilita uma relação sã, complica a evolução natural de cada um para depois se aproximarem.

Como abordar então estes exemplos de casos sem juízos de valor e simplificar as relações?

Abordar os outros sem juízos de valor

Para não serem sujeitos a juízos de valor, para manter sã a relação e pegando nos exemplos anteriores deveria dizer-se apenas o que se observa e o que se sente, ou seja:

– “O Paulo ganhou esta semana no totoloto, eu não tive ainda esta satisfação.”

– “O Pedro gosta de se envolver com outras mulheres, eu gosto de ser fiel aos valores que me foram transmitidos.”

– “A Sandra conseguiu ser promovida, se eu quiser alcançar o mesmo sinto que terei que mudar algo em mim.”

Ao descrever o que se observa não se está na subjetividade, não se está na projeção da própria pessoa sobre o outro. Quando se consegue desenvolver estes hábitos que descrevem, clara e precisamente, as emoções constroem-se laços entre as pessoas. Esta descomplicada forma de atuar cria, sim, equilíbrio e harmonia entre os indivíduos, evitando desencadear os sentimentos desagradáveis descritos anteriormente.

Estes sentimentos desagradáveis que se tenta combater há séculos não surgem por ser uma maldade a ser eliminada. Mas sobrevêm essencialmente como sendo uma mensagem interior a indicar algo que tem que se alterar na própria pessoa. Implica que se pare para que se possa reconhecer, aceitar e compreender o que se está a sentir, que se reflita sobre o sentido desta mensagem, sobre o que se pode melhorar e depois que se age da forma mais adequada à realidade. Indo mais longe, e para quem concorda com esta ideia, há que agradecer ao outro o ter desencadeado estes sentimentos desagradáveis (este agradecimento pode ser um simples monologo interior), porque na verdade, estes sentimentos avisam a pessoa que tem que repensar algo na sua vida e nas suas atitudes. Tudo o que irrita nos outros pode ajudar cada um a compreender melhor o que se passa nele próprio.

Benefícios pessoais que se adquirem quando se ajuíza alguém

Os juízos de valor têm o poder de tranquilizar a pessoa que os faz. São práticos porque condensam inconscientemente muita informação. Uma vez a pessoa rotulada já se sabe o que se pode esperar dela. As suas futuras atitudes tornam-se previsíveis, pelo menos é o que se pensa. Se um filho ou o marido é preguiçoso já se sabe que ele não vai acabar as tarefas pretendidas. Se a mulher é agressiva tem que haver algum cuidado em não a contrariar. Sem estas etiquetas, perante cada nova situação, ter-se-ia que confrontar o desconhecido. Ora o imprevisto angustia qualquer pessoa. Ao se rotular os outros constrói-se uma representação do mundo com a sensação de ser mais segura e previsível.

Aliás, não há nada mais seguro do que quando se pensa que se está no lado correto da barreira. Porque os “maus da fita” são sempre os outros. Certo? Porém a realidade, o mundo à nossa volta, permanece um enigma, a espécie humana é profundamente imprevisível e ninguém é totalmente bom ou mau. É uma ilusão achar que o fluir dos acontecimentos vai confirmar e manter-se fiel às minhas previsões. Perante isto, o aspeto de segurança dos juízos de valor constitui apenas uma ilusão tranquilizadora, mas não deixa de ser uma ilusão à mesma. Poder-se-á dizer que ao fugir da realidade abre-se o caminho, de certeza, para desilusões e para sofrimentos.

Proveniência da tentação de ajuizar

Os juízos de valor também existem noutros contextos onde são compreensíveis e aceites. Mas trata-se de profissionais que dispõem dum conhecimento superior reconhecido, por terem alcançado uma longa e exigente formação na sua área (peritos, médicos, professores, mestres, juízes, entre outros possíveis). Todavia, fora do contexto profissional os juízos de valor são desnecessários e estão na origem de discriminações que alimentam as injustiças, fomentam mal-estares e violência supérflua.

Nas relações pessoais, muitos são os fatores que podem contribuir para se emitirem juízos de valor. Pode ser uma forma de exteriorizar o sentimento de insegurança, de aliviar medos irracionais, medos sobre certas vivências que aconteceram no passado mas que já não são adequados. A pessoa tem dificuldade em aceitar as fraquezas e os defeitos dos outros, porque desperta nela os seus aspetos vulneráveis e dolorosos que não quer ver. Quanto mais insegura se sentir mais terá tendência para imputar a culpa aos outros. É como se ela se justificasse criticando os outros e se inconscientemente dissesse: “Olha que não sou assim tão mau ou tão medroso, ele é pior do que eu.” A pessoa critica para tentar tranquilizar-se, só que é um alívio de curta duração. Paralelamente, ela sabe que também está constantemente a ser um alvo de julgamento e inevitavelmente a insegurança, as suas defesas psicológicas, duplicam-se e as críticas ampliam-se. Entra-se assim num ciclo vicioso, afunda-se em mais insegurança e tenta compensar-se com mil e outros comportamentos (e os comportamentos inadequados não faltam), que serão sempre ilusórios e com uma satisfação de curta duração. 

Quando se julga, se critica, não será que se está a olhar para o outro dum modo egocêntrico? Não se estará a impor as suas convicções, os seus princípios ou os seus fracassos? O que se critica no outro não será indicador dalguma problemática nele próprio? Qualquer julgamento sobre a própria pessoa ou sobre os outros refere-se a uma exigência de perfeição. Ora, se se renuncia a este ideal de perfeição deixa-se de sentir esta necessidade de cultivar este hábito desmotivante e destruidor. Pode-se aceitar os outros como eles são e encorajá-los à mesma a evoluir de uma outra forma.

Um outro aspeto que merece também salientar é quando se julga a si mesmo. Ao julgar-se a si próprio, ao colocar-se etiquetas (por exemplo, de estúpido, de feio, de fraco, de não valer nada, etc.), criam-se condições inconscientes para se separar de uma parte dele próprio, está a condenar uma fração nele. Ora, o ser humano para estar bem com ele mesmo não se pode dividir interiormente, porque acaba por criar um vazio, um mal-estar indefinido. Esta separação impede também a união mental de si mesmo. Para manter esta união mental (alguns até a nomeiam de espiritualidade não de cariz religioso) qualquer acontecimento de vida é um potencial enorme para se crescer, para evoluir mais.

Uma das formas para se ultrapassar a tendência de se julgar a si mesmo é, a seguir qualquer experiência, colocar-se perguntas do tipo: o que será que posso aproveitar e aprender desta experiência que acabei de viver? De que forma é que isto me ajuda a crescer? Ou seja, foca-se a atenção no lado de aprender que é sábio (aprendizagem) e não no juízo que mente (julgamento).

Como se pode relativizar ou acalmar a emissão dos juízos de valor?

Uma das primeiras noções a ser repensada é a ideia errada que se tem sobre o egoísmo. Mais uma vez se vai desmantelar mais um conceito culturalmente generalizado que é o egoísmo. Pensar nos outros antes de pensar em si é louvável mas destruidor e apenas complica mais a realidade. Nunca um altruísta pode ser saudável se não tiver primeiro uma boa imagem de si próprio. Da mesma forma as necessidades fisiológicas e as psicológicas terão sempre de ser resolvidas em primeiro lugar.

Comecemos pela base das necessidades. Acha que uma pessoa (eletricista, médico, bombeiro, polícia,…) presta um serviço eficaz a alguém quando está com fome, com sede, com sono ou com necessidade de ir à casa de banho? Ou seja qualquer um tem que tratar dele primeiro antes de estar disponível com eficiência para os outros. Quando a pessoa se esquece dela, se desleixa, se recusa em estar atenta às suas necessidades, ela torna-se frustrada, mal-humorada, cansada e pouco eficaz. Nestas condições como é que ela poderá estar com boa disposição para prestar um serviço eficiente a uma outra pessoa?

Duma forma geral, quem se desleixa vai obrigar os outros a suportarem os seus humores desagradáveis, as suas queixas, as suas frustrações. Não é nada gratificante para os outros! Não será mais sensato oferecer a sua presença plenamente disponível, descansada, calorosa e com as suas necessidades satisfeitas? Isto sim predispõe a pessoa para ser um altruísta genuíno. Mas o que acontece muitas vezes é, em vez disso, a pessoa esforçar-se para não parecer egoísta, negando-se como pessoa e apresentar-se perante o outro, cansada, carenciada de atenções, de ser reconhecida, de não ser valorizada, envolvendo-se de forma inquieta nas relações e/ou invadindo o espaço do outro. Não é por acaso que o ser humano é naturalmente egoísta. Para se conviver saudavelmente com as outras pessoas qualquer indivíduo deve saber tratar e saber escutar as necessidades dele (fisiológicas, psicológicas onde há muito para dizer) e de as respeitar para que se apresente com disponibilidade duma forma calma, tranquila, humilde, discreta.

Rever a definição de egoísta

A definição mais comum de um ser egoísta é aquele que só pensa nele. E ele tem mesmo que pensar nele. Perceber o que se está passar com ele, o que é que ele necessita de essencial (não só em termos fisiológicos mas também psicológicos) para depois quando se encontrar com os demais saber respeitá-los como eles são. Não se consegue ser autêntico com os demais se a pessoa não for primeiro autêntica com ela própria. Quem vive num mundo interior repleto de conflitos reprimidos (que também podem ser traumas, mágoas, ansiedade e frustrações não apaziguadas, “gavetas” do passado para se arrumarem, entre outros problemas a serem trabalhados), expressa-se com mensagens contraditórias, ambíguas, paradoxais e gera mal-estares numa relação. Esta definição da pessoa egoísta requer mais uma pequena observação. O egoísta que tem um pensamento saudável não tem nada a ver com o egoísta doentio (egocêntrico) que nunca está satisfeito, que quer sempre mais e não se importa com o que os outros possam sofrer com os seus atos.

Rever a definição do egoísta numa outra perspetiva é uma boa maneira para a pessoa se acalmar, para se sentir melhor, para se aceitar como ela é, para admitir e ultrapassar os problemas da vida, para alcançar uma paz interior, para “largar-da-mão” ou relativizar os juízos de valor e conseguir exprimir uma opinião sem ajuizar. É verdade que na sociedade atual isto pode parecer uma utopia! No entanto, se se quiser pessoas mais humanas, sãs, é uma reflexão que pode ser debatida. Cada um apenas poderá participar naquilo que lhe é acessível e de acordo com o seu estatuto.

(Uma vez que não é fácil relativizar os juízos de valor, que não é assim tão evidente a forma como se deve preencher as necessidades psicológicas nem amar-se a si mesmo no respeito do outro, predisponho formações e sessões de coach individuais ou em grupo para se alcançar da melhor forma possível estes objetivos)

Uma boa imagem de si próprio

Como é possível desenvolver o potencial humano se o indivíduo tem uma má imagem dele próprio? Quem interioriza uma má imagem, quem não se sente bem consigo mesmo, como é que pode desenvolver o melhor que há nele? E mais, se ele tiver que se encaixar num modelo imposto e tiver que gostar mais dos outros do que dele próprio como é que é possível não se sentir frustrado, mal-humorado, angustiado e amargurado? Depois estes sentimentos são mal vistos, porque vêm confirmar que o indivíduo é um ser, por natureza, com má índole. Entra-se num faz de conta doentio, esconde-se certas facetas inconfessáveis, critica-se, ajuíza-se tudo o que incomoda, manipula-se, tenta-se convencer os demais gastando-se tempo, energia para se conseguir modelar os sujeitos a nosso modo. E no final este resultado é desastroso.

Não se pode alterar a forma como o mundo nos trata à nossa volta. Em contrapartida, a forma como se aborda o mundo, esta sim, está nas nossas mãos. Cada um pode dominar os seus atos não só em relação a si próprio mas também com os outros. No entanto, terá que se aprender a separar os sentimentos dos comportamentos e como agir com o que sente para não reagir inadequadamente.

Imagine agora um mundo onde ninguém se julga, nem aos outros nem a si mesmo. Um mundo onde cada um se aceita tal como é. Um mundo em que cada um tem a possibilidade de evoluir. Que nome é que daria a um mundo assim?

Convido cada um que tenha acabado de ler este artigo para deixar um comentário dizendo o que é que este artigo lhe inspirou, que dúvidas suscitou, que informação útil retirou e que reflexão lhe mereceu.

Aconselha-se a ler também, no mesmo site, os artigos intitulados:

– O respeito por si próprio e o amar-se a si mesmo

– Não seja vítima duma relação perversa narcísica!

– O que esconde a vontade de querer convencer?

– Numa nova era com escassos recursos financeiros não se terá que repensar a forma de como cada um deverá estar na vida

 

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Comments

By Dulce Costa on November 18th, 2015 at 8:41 pm

assunto muito interessante e onde assenta tudo o que traz mal estar nas relações entre pessoas e no mundo. Há realmente uma tendência para uma pessoa se sentir sempre acima dos outros… e de ter sempre razão…

o conceito de egoísmo que também aborda é outro conceito que realmente deveria ser revisto, porque na tradição católica pensar em si própria quase é pecado… e daí termos mulheres e homens sem amor próprio e auto-destruindo-se pelos filhos e companheiros, pais, etc…

aliás a religião é o factor desencadeador destes comportamentos… daí sugerir que um dia também aborde este paralelo. As religioes têm sido o grande suporte que motiva guerras reais… católicos, judeus, muçulmanos, pincipalmente são as mais actuais. Havia e há como que um vigiar constante do vizinho e se o vizinho não fazia o que a igreja ou sociedade obrigavam logo iam fazer queixa deles… a pontos de ter morrido gente com a Inquisição e ainda de morrer gente com muçumanos e etc.

Penso que esta conversa deriva realmente de comportamentos exigidos pelas igrejas e que ainda estão entranhados em nós.. Com outros nomes combatemos o pecado e os maus actos contra Deus…temos uma democracia há só 40 anos e ainda temos gravadas as ordens que a igreja e sociedade obrigava… acho que no nosso povo que viveu poucos anos antes do Salazar, a Inquisição, até se poderia dizer que que em nós temos esta informação genética

Por exemplo, a liberdade na mulher… a aquisição dos mesmos direitos e deveres. As mulheres transformaram isso irresponsavelmente (porque um dia será a base para voltar a escravatura da mulher) numa brincadeira de imitar os homens nas bebedeiras, e comportamentos públicos deploráveis aos gritos a dizer asneiras e etc… coisas que vemos nas escolas e ruas.

Infelizmente a mulher não aproveitou o momento para se impor socialmente e fazer leis que protejam a maternidade e até a participação activa das mulheres na política. Não, a maioria das mulheres é das melhores alunas nas Universidade e escolas e, no entanto, são os homens que ocupam os cargos de chefia e elas nada fazem… e depois as mulheres são as maiores críticas de outras mulheres, até por inveja (outro sentimento que em certas pessoas está muito activo)… são capazes de armar em santinhas para outros homens, deitando abixo outras mulheres devido a comportamentos que para elas são errados… em tempos da Inquisição eram as primeiras a fazer queixa delas à Inquisição e assim muitas foram mortas queimadas nas fogueiras.

Isto é um assunto muito importante que há muito deveria ser debatido nas escolas em momentos de Educação para a Cidadania, mas o tempo passou e nós mulheres pouco fizémos e as coisas estão a cair não sei para que lado… parece que para muito mau sempre para a mulher.

Será que algum dia conseguiremos viver em paz, sem o medo do que os outros pensam, da religião e da polícia? Será que algum dia nos vão dar tempo para debater estes assuntos e outros?
Há muito que deveria ter sido feito… 5/10 anos após o 25 de Abril de maluquices e comportamentos histéricos, era tempo que baste… depois dever-se-ia ter parado para a sociedade pensar na sociedade que querem no futuro

E recuso-me a entrar na vulgaridade de dizer que não devemos ser moralistas… a moral é importante enquanto reguladora de valores sociais… não religiosos

E não vale a pena branquear certos comportamentos, só para não sermos críticos… há coisas que certas pessoas fazem que são condenáveis enquanto seres humanos e sociais… tratar mal/agredir as mulheres e filhos… ou os maridos e filhos, não trabalhar e querer ser pago… beber excessivamente e todos terem que aturar seus comportamentos, desviar homens ou mulheres para a homosexualidade (mas por outro lado, quando é mesmo natural, deve-se apoiar e respeitar quem o é… sim, porque é muito difícil ser diferente), abusar sexualmente de crianças, roubar, ser corrupto no trabalho ou política… etc… mas agora a forma de tratar estes assuntos é que deveria ser desde o berço

Deveríamos pensar na sociedade que temos e o que está a provocar a homosexualidade em vez de a condenar… já se sabe que o consumo pelas mulheres de muita soja, provoca alteração hormonal que se pode reflectir na gravidez e na sexualidade dos filhos… as hormonas com que são tratados os animais que consumimos… etc… há imenso factores que podem provocar alterações físicas e que poderiam ser combatidas… e deveríamos como já falei há tempos, repensar e corrigir o tempo que as crianças estão à frente da televisão e computadores… já se sabe os danos que isso provoca, mas continua ser moda os meninos terem estes objectos e serem imbecilizadas à sua frente

E deveríamos repôr a disciplina sobre a Organização Política e Administrativa da Nação… se for fazer um estudo, vai perceber que as pessoas não sabem quais as leis de seu país… nos tempos antigos tinham a noção de como era importante para os dominar, desde a escola saber isto, mas estes diferentes governos não querem que a população esteja informada, porque manobram melhor com gente ignorante… até ao dia… gente ignorante dá jeito até certo ponto… depois só traz chatices
Hoje há tantes leis que é estúpido tropessarmos a todo o momento em coisas que não sabemos… sai-se das universidades sem se saber como fazer um ofício, sem saber os organismos que temos de apoio social para recorrer a eles, sem saber direitos e deveres, sem saber o que é proibido… a ponto de nossos jovens pensar que tudo vale…

etc… amigo… muita coisa… espero ter ajudado
Rescindi contracto, se precisar de mim pode contar… são mais de 30 anos de serviço muito variado
Cumprimentos
Dulce

Um assunto muito interessante que me levou a pensar nos juizos de valor que emitimos constantemente sobre os outros,que dependendo da nossa personalidade e do que apreendemos ao longo da vida poderão ser positivos ou negativos. Não emitir juizos de valor, considero utópico, inconscientemente quando vimos alguém já estamos a formar uma ideia sobre essa pessoa. Para não emitirmos juizos de valor negativos, que humilhe quem os ouve, teríamos de ter uma educação preventiva nesse sentido.
Cmptos
Rosa Bicho

“Por que vês tu, pois, o argueiro no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu olho? Ou como dizes a teu irmão: Deixa-me tirar-te do teu olho o argueiro, quando tens no teu uma trave? Hipócrita, tira primeira a trave do teu olho, e então verás como hás de tirar o argueiro do olho de teu irmão.” (Mateus, VII: 3-5)

É, de facto, muito mais fácil julgar os outros do que olhar para si próprio. Se conseguirmos suspender o acto de julgar talvez consigamos realmente crescer e melhorarmo-nos.

Meu caro amigo Antonio,
(peco desculpas pela a minha “nao acentuacao” mas o meu teclado australiano do computador e Ingles, nao portugues)
E com enorme prazer e tambem orgulho ler mais um artigo teu de grande profundidade que nos leva a reflectir sobre aquilo que andamos a fazer no dia a dia e que, de forma nao consciente, afeta negativamente os que nos rodeiam e a nos proprios.
Encontrei muitos pontos no artigo que nunca tinham pensado antes. Fazem todo o sentido. Vou desafiar a Nicola a lermos em conjunto o artigo, num destas noites (em vez de ficar a ver TV que contribui significativamente para a nossa habilidade de julgar outros) de forma poderemos aprender como usar estas ferramentas que sugeres de forma a contribuirmos para um maior crescimento pessoal.
Este artigo, bem como os outros que tens escrito, na minha opiniao, nao se consegue assimiliar o conteudo com apenas uma leitura. Tem de ser lido e relido varias vezes, com uma atitude reflexiva, para se poder tirar o maximo proveito dele.
Muito obrigado pela partilha e parabens mais uma vez!
Grande abraco
Arlindo

By José Rosado on December 9th, 2015 at 8:13 pm

Obrigado por mais um bom artigo.
Fico a pensar na responsabilidade que tenho e na influência e responsabilidade que cada um tem.
Espero que as pessoas fiquem cada vez mais conscientes do que podem fazer.

By Santiago Agrelo Martínez on December 12th, 2015 at 9:20 am

Es una muy interesante reflexión: muy práctica. Gracias.

By Lina Nascimento on December 13th, 2015 at 1:11 pm

Dr António
Obrigada por me ajudar a refletir sobre este tema num artigo tão rico e profundo.
Realmente, a harmonia quer nos relacionamentos mais próximos como nos mais alargados, deve-se sempre à natureza dos juizos de valor de cada um.
É sempre necessário nos descentrarmos da nossa verticalidade para aceitarmos melhor o outro, na sua essência e singularidade.
Parabéns pela abordagem do tema e pela profundidade do artigo.
Beijinho

António, o teu artigo guia-nos a uma profunda reflexão… e faz-nos pensar na nossa importância de ser em vez de ter e de sentir e de melhorar a nossa energia interior para o bem de nós mesmos e para o bem do “próximo”.
Os julgamentos são tão precisos???
O teu artigo consciencializa-me daquilo que já sinto, que não quero passar o resto dos meus dias em ciclos de competições profissionais mas quero passá-los em muitos momentos em que me possa dedicar ao alivio do sofrimento psíquico de todos aqueles que necessitem da minha ajuda.
Obrigada mais uma vez! Beijinhos, Marisa.

Sou uma pessoa bastante extrovertida e sempre sou vitima desse ” juízo de valor”, as vezes me sinto muito triste pelas pessoas não conseguirem enxergar o que tenho de melhor, sempre procuram um olhar de vulgaridade. Esse artigo é muito interessante e me fez pensar melhor nessas pessoas e aceitá-las, assim como viver mais livre do julgamento delas.
É como você escreveu, precisamos melhorar como pessoas para que possamos viver em um mundo melhor.

By Luis Barroso on February 14th, 2016 at 3:29 pm

Gostei do artigo. Fazer juízos de valor sobre o nosso próximo é uma (má) característica do ser humano. Perceber que cada um de nós tem o direito de ter a opinião que entender sobre um determinado assunto, desde obviamente que saiba respeitar o seu semelhante, deveria ser uma regra de ouro, mas infelizmente assim não acontece. As pessoas são descriminadas socialmente quando “saem do socialmente aceite”. Pura hipocrisia. Temos ainda o direito de viver a nossa vida como entendermos ser o melhor para nós, mas até neste aspecto, somos confrontados com a monitorização social permanente, que nos julga quando é considerado que “estamos desalinhados com o moralmente aceite”. Enfim, uma sociedade preconceituosa, que condena sem dar a hipótese de defesa, e de uma forma maquiavélica.

 

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