Às vezes, tenho a sensação de que não amo os meus filhos de forma igual! Será isto normal?
Colocar-se dúvidas se se gosta ou não dos filhos da mesma forma atormenta alguns pais. Cada criança é única. Única na construção da sua identidade com o seu próprio potencial, com o seu próprio ritmo de desenvolvimento e aparece em momentos diferentes na vida do casal, tanto da mãe como do pai. Por isso, é impossível gostar de todos os filhos todos da mesma forma. É normal sentir-se isso e é saudável.
O intuito de se querer amar os filhos da mesma forma é sincero, é respeitável e compreensível, mas pouco provável na prática. Mas…atenção! Amar cada filho de forma diferente não significa amá-los menos.
A ligação, o apego, que cada pai vai construindo com cada filho, mesmo sem se aperceber, é único. São inúmeros os factores que intervêm nesta construção vinculativa, como por exemplo, as vivências distintas em cada momento, o temperamento da criança, o seu sexo, a sua idade, o seu contexto, as suas expectativas, entre outros.
Admitir e aceitar que não é possível amar todos os filhos de forma igual pode facilitar a vida de todos os membros da família. O essencial não é: quem amo mais, mas, sim, como amar cada um diferentemente, sem desprezar nenhum. É através da forma como a criança sente que é amada, por cada um dos pais, que ela constrói a sua individualidade, que ela se reconhece como ser único, e consegue sentir-se valorizada e aceite.
Não é pela quantidade de amor que a criança se desenvolve saudavelmente, mas pela qualidade da relação que se mantém com ela, da atenção que lhe é prestada, mesmo que o tempo disponível seja pouco, nem menos pela quantidade de prendas ou de outros objectos materiais que se ofereça à criança. Há que traçar o caminho para que cada filho se sinta único, distinto, com o seu próprio lugar na família, e sem nunca fomentar ostensivamente preferência por qualquer um deles. Aqui sim, é que reside o perigo, ou seja, manter laços privilegiados com um deles, quando um dos pais deixa enraizar, deixa que as crianças sintam que preferem um em detrimento do outro irmão. Este comportamento vai prejudicar as crianças que sentem esse tratamento desigual e em nada vai favorecer mesmo aquela que é alvo de privilégios.
No mesmo sentido, não é aconselhável perguntar a uma criança de quem é que ela gosta mais, se do pai ou da mãe, porque a criança gosta de ambos os pais mas cada um de maneira diferente. Este tipo de perguntas ingénuas, à primeira vista, não alimenta a auto-confiança na criança, pelo contrário, angustia-a, levando-a para sentimentos de culpa inúteis que a podem marcar para toda a vida.
Em suma, é bom que os pais saibam passar a mensagem aos filhos, de forma que eles percebam e sintam que nenhum deles, tanto os filhos como os pais, é o preferido na família, mas que cada um é amado por aquilo que é, com as suas diferenças e não de forma igual em nome do amor.
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