O que esconde a vontade de querer convencer?
Ao tentar convencer alguém o que é que a pessoa tenta colmatar em si própria? O que é que ainda não desenvolveu nela? Quais são os perfis de personalidade mais destabilizadores onde gostam de ser convincentes?
Por outro lado, qual será o impacto psicológico desta tentativa no outro, incluindo na criança e no jovem? Mesmo com boas intenções o que é que não está certo na tentativa de convencer? Onde se encontram os limites?
Qual será então a melhor forma de abordar, de apresentar, as minhas ideias ou o meu pensamento ao outro?
Convido-o a ler o artigo para obter respostas a estas perguntas e a outras mais.
A nossa sociedade, de forma geral, recomenda o convencer, que equivale a ser eficaz na vida. Que sonho, que sucesso ser convincente! Porém é mais uma destabilização, uma ineficácia, um desperdício e um perigo. Mas porquê? Porque convencer é promover o pensamento único. Tentar convencer alguém é uma violência, é uma atitude de poder sobre o outro. Mesmo com boas intenções significa negar o que ele pensa para substitui-lo pelo meu pensamento. Isso é-lhe psicologicamente destruidor, enfraquece-o mentalmente. Um pensamento, um ponto de vista apoia-se no que há de mais íntimo na pessoa e contradizê-la, opor-se a ela, é golpear num sopro a sua integridade íntima. Mas como atuar então?
Em vez de impor as ideias será melhor partilhar ideias diferentes e deixar a pessoa desenvolver esse conjunto de ideias, de informação e aproveitar aquela que lhe for mais conveniente. Partilhar uma informação com bastante clareza e respeito para que ela possa ser acrescentada ao seu pensamento, sem que seja negada a dela, é uma atitude humana de respeito e muito mais eficaz. Quando a pessoa se sente primeiro respeitada e depois se lhe propõe ideias diferentes, mas sem a criticar nem a julgar pelo que ela possa pensar, a pessoa sente-se aceite, toma mais consciência das diferenças e deixa-se mais facilmente encaminhar pelo caminho da sua maturação incorporando uma ou outra informação diferente. Não integra ideias simplesmente para agradar ao outro ou por receá-lo. A pessoa não está a tentar ser outra mas sim a crescer em sintonia com ela própria, sendo ela própria, e evoluindo como pessoa distinta e coerente.
Quem pretende convencer é porque não se sente seguro! Tenta por essa via, inconscientemente, aliviar o seu medo do diferente, do que é desigual a ele próprio. A confrontação com o diferente provoca-lhe o medo de estar só. O paradoxo é que a sua certeza e o pensamento único reenvia-o para a solidão, confirma-a. Solidão essa de que tanto tenta fugir mas que se ativa mais ainda. E porquê este resultado oposto? Justamente porque agarrando-se firmemente à sua certeza o outro deixa de existir. Ora para não estar só o outro tem também que existir. Tem que se manter presente. Para tal, é inevitável a aceitação da diferença, travar com o querer ser apenas um e não ficar atado à ilusão da aparência tranquilizadora da fusão.
A pessoa que aprendeu a se autoafirmar, que a desenvolveu saudavelmente, que tem respeito por si própria, que se sente segura, respeita também o outro e mais facilmente as suas ideias diferentes. Como consequência, permite que o outro se sinta compreendido, aceite e aumenta a possibilidade de valorizar mais as ideias diferentes que lhe foram apresentadas. Tudo isto também não significa que se tem que suportar as ideias do outro, mas considerá-las como uma riqueza que ajuda a ter uma visão diferente do mundo, como uma liberdade de escolha que se vai acrescentar à própria perceção das coisas e crescer com estas diferenças.
Aquele que fica furioso por não conseguir convencer, por o outro seguir o seu próprio caminho, é aquele que precisa mais de ajuda. Muitas vezes, o que acontece é que pensa que não foi ainda suficientemente convincente, que não foi bem compreendido e repete com mais veemência o mesmo, pensando que o outro é duro, difícil, de entender. Qual é o desfecho desta imposição? Ele resiste, opõe-se, desmotiva e, para mais, é ainda criticado por isso. E afinal é aquele que tenta convencer que tem problemas em não compreender, em não aceitar o outro pela sua diferença. Convencer não é nenhuma força mas sim uma fragilidade humana, uma imaturidade perante a realidade. Ao convencer encontra um meio para compensar a sua falta de autoafirmação, mas sem nunca a estruturar.
Esta falta de autoafirmação está presente no manipulador “perverso”, que é diferente da do manipulador socialmente aceitável. É normal levar uma pessoa próxima a tomar uma decisão que lhe convém melhor. Assim, cada um a seu modo, é também um pouco manipulador. Porém, o manipulador “perverso” é cínico, cruel, nunca está satisfeito, não respeita o outro, utiliza-o sem escrúpulos em seu proveito. Não há nele a capacidade de se colocar no lugar do outro, de perceber o seu sofrimento e de parar com as suas atitudes devastadoras. Não desenvolveu as estruturas mentais necessárias para refletir sobre as consequências das suas ações sobre o outro. Apesar de ter um corpo de adulto ainda se mantém criança em muitos aspetos.
Na verdade o objetivo principal do manipulador “perverso” é inconsciente e é o de se proteger, ou seja, conseguir uma segurança que nunca alcançou enquanto criança. Tenta demonstrar que o outro está errado para o enfraquecer. Opõe-se a tudo o que o outro lhe diz para o destabilizar e assim sentir-se mais forte. Ao enfraquecer o outro o manipulador “perverso” procura desencadear o seu próprio sentimento de segurança. Só que os sentimentos são de curta duração e depois volta novamente o estado de insegurança tornando-se num ciclo vicioso.
A falta de autoafirmação também está presente na pessoa que tenta ser útil. Quer ser indispensável mas não tenta compreender a pessoa. Segue a sua ideologia, os seus princípios, convencida que vai defender, que vai ajudar, o seu interlocutor. Porém, para um bom equilíbrio psicológico não se pode impor um conselho a alguém que não o pediu, que não o quer ou que não entende desta forma. É uma tentativa de convencer muito presente no “deves ou não deves fazer isto ou aquilo” ou ainda “é para o teu bem”. Ser útil, querer ajudar, é algo que se propõe e não que se imponha. Propõe-se um conselho mas sem nenhuma pressão respeitando o outro na sua decisão final.
Por muito que possa chocar alguns, esta visão mais humana também é válida para quem lida com crianças e com jovens. Em vez de quer convencer seria melhor preocupar-se, compreender a razão da criança/jovem e tentar propor algo baseado na razão que ele defende. Não se pode esperar que a criança ou o jovem oiça e aceite, de ânimo leve, o que se pretende dizer se lhe foi de antemão negado, desvalorizado ou destruído o que pensa, o que sente. Dificilmente se constrói algo sobre destroços e o mesmo é valido para os pensamentos impalpáveis, certo, mas que existem e são bem reais na criança/jovem!
Mas o que fazer se a criança ou o jovem não aceitar nada, recusar tudo? Então será mais sensato tentar compreendê-lo, perceber melhor o que é que se está a passar com ele recorrendo a um profissional se for necessário.
Com boas intenções a pessoa que tenta ajudar, mas sem ter em conta a opinião do outro, sem compreendê-lo sem respeitá-lo, está inconscientemente também a compensar a sua própria falta de autoafirmação. A sua atitude de ajuda desencadeia nela o sentimento de ser indispensável. Uma sensação que lhe permite sentir-se momentaneamente valorizada. Mais uma vez, está-se perante um sentimento de curta duração e num ciclo vicioso que não contribui para o bem-estar de ninguém.
Atualmente há formas de se libertar deste impulso, desta vontade, de querer convencer e que arrasta tanto sofrimento inútil. Algo presente em todas as áreas, desde as profissionais, as familiares, as íntimas com o outro e com a própria pessoa… Este último ponto, o de se convencer a si própria, é na prática clínica muito recorrente e merece um pequeno desenvolvimento, ou seja, são “coisas”, pensamentos, com que no fundo se discorda, que não se aceita bem, que não são aqueles que a pessoa verdadeiramente sente, mas que se impõe a si própria por razões sociais, por corresponder ao conformismo entre outras possíveis causas. Forçosamente, esta posição conduz a pessoa a ficar atrelada a sentimentos de culpa desestabilizadores que não a ajudam nem psicologicamente na relação com os outros nem a ser ela própria.
Numa relação, em vez de uma pessoa querer sempre convencer o outro ou a si própria seria melhor tentar perceber o que é que se passa, quais são as mágoas que arrasta, quais são as feridas a sanar, do que é que anda a fugir inconscientemente sem se aperceber e que a torna tão insegura?
Existem “ferramentas”, diversas soluções, estratégias práticas e eficazes retiradas da experiência, que se podem personalizar e serem ensaiadas na sessão.
Não fique a viver situações dolorosas quando atualmente existem formas saudáveis para as ultrapassar!
Próximo artigo a ser publicado:
O próximo artigo a ser publicado envolverá uma perspetiva diferente sobre a promessa. Será boa ideia transmitir à criança que uma promessa é para se cumprir? Quantos vigaristas, embusteiros, que juram com a mão no peito, olhos nos olhos, honram o compromisso assumido? Que desilusão para quem foi educado na confiança! Qual é a melhor forma para se prevenir ou evitar situações destas? Como abordar uma promessa para com uma criança?
Convido-o a ler o próximo artigo a ser publicado para obter respostas a estas perguntas e a outras mais.
Aconselha-se a ler também, no mesmo site, os artigos intitulados:
– Depressão ou Estado Depressivo Passageiro
– Mais razões importantes para consultar ou ter um apoio psicológico
« Não seja vítima duma relação perversa narcísica (com vídeo)! | Home | Só amor na família… não chega! »
Comments
Mais um fantástico artigo que nos ajuda a compreender este fenómeno (que nos caracteriza como seres humanos que somos) do “tentar convencer/impor ao outro” e das suas implicações no bem-estar emocional e psicológico do ser humano.
Mais uma vez parabéns e um muito obrigado amigo António pela partilha!
Boa tarde
Gostaria de ter mais informações sobre;
6) Workshop – Confrontação com Personalidade Familiar Complicada.
Formas de pagamentos
mdefatima
Parabéns por seus artigos, Sr. Antonio Valentim! Estão sendo de grande esclarecimento e conscientização de mim mesma! Estou estudando tudo que posso. Um Grande Abraço
Muito bom…
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