O jovem e o consumo de substâncias… como lidar com isso em casa? (com vídeo)
Na nossa época, qualquer jovem não está livre de ser convidado para consumir drogas, álcool ou tabaco nem que seja apenas para ser aceite num grupo. Como abordar estes temas com ele? Como devem reagir os pais se desconfiarem ou descobrirem que o filho consome alguma destas substâncias? Poderá ele ficar dependente daquilo que consome? Como impor-lhe limites, sem cair no “tudo ou nada” e sem entrar numa situação conflituosa?
A procura de sensações fortes, novas, quase inevitável no jovem, não deve ser nenhum pretexto para instaurar hábitos de vida que podem acabar numa dependência de excitantes. Numa outra vertente, o seu consumo é o recurso ideal para transmitir aos pais mensagens contraditórias do género “sou frágil, tratem de mim” e o contrário “já sou grande e faço o que me apetece”.
O jovem confronta-se com a necessidade de ser autónomo mas também com a necessidade de manter relações afectivas com os pais e de ser depende deles. O consumo de excitantes pode ser encarado como uma forma enviesada de substituição desta dependência parental que ele ainda não consegue e assim aliviar estas tensões ou outros mal-estares por estas vias de consumo. Mal-estares que no jovem levam-no a escolhas que colocam a sua vida em perigo. Só a nicotina do tabaco possui dois efeitos conhecidos: estimula o tónus muscular, numa fase em que o jovem precisa de apoio para crescer, e contém intelectualmente a ansiedade. Razão pela qual o tabaco tem uma forte adesão pelos jovens. Mas, então, como enfrentar esta complexidade?
Se algum dia se aperceber, que o seu filho anda a consumir alguma substância, não entre em pânico nem dramatize, mas também não deixe passar esta oportunidade para conversar com ele, apesar de serem necessários vários meses de consumo sistemático (cerca de 18 meses) para se tornar dependente. Por isso mesmo, é de toda a conveniência abordá-lo sobre o assunto logo que o caso seja detectado.
Porém, conversar com o jovem não é dar-lhe um sermão, insultá-lo, acusá-lo, humilhá-lo, envergonhá-lo ou gritar com ele, porque estas atitudes, apesar de serem “automáticas”, “naturais”, abrem portas para conflitos intrincáveis prejudicando o relacionamento com ele. Manifeste-lhe a sua preocupação e refira-se apenas ao que constatou. Por exemplo: “estou preocupado porque penso que andas a fumar e preciso de falar contigo.” Para se evitarem tensões é aconselhável, nesta primeira fase, não ir mais além e marcar-se uma outra hora ou um outro dia para uma conversa onde ambos os pais devem estar presentes e mesmo que estejam separados, é bom que estejam presentes para se transmitir ao jovem que o assunto que se vai abordar é importante, que se está preocupado. Se um dos pais não tiver paciência para entrar no diálogo, basta que esteja presente e deixe o outro dialogar com o jovem.
É frequente que a primeira reacção do jovem seja negar o facto e então não vale a pena insistir com ele. Diga-lhe que, quer ele queira quer não, na sua qualidade de pai tem o dever de cuidar dele, que não é sua intenção passar revista às coisas dele nem ao seu quarto, mas que, quando bater à porta quer que ela seja logo aberta. Previna-o que vai contactar discretamente os seus professores, os seus amigos e outros adultos com quem ele se dá para tentar perceber melhor a situação. O importante é que ele sinta essa preocupação e que vai agir no interesse dele. Se a situação não melhorar peça ajuda a um profissional do sector. Não baixe os braços, nem tome medidas radicais como castigos ou outras atitudes mais bruscas, nem comece a revistar o quarto dele, as coisas dele para provar que tem razão, porque corre o risco dele começar com provocações, revoltar-se e se afundar mais ainda no consumo.
Se, pelo contrário, o jovem reconhecer que consome substâncias ou que fuma, e este reconhecimento é por si só um bom sinal, terá que tentar saber desde quando é que o faz, que quantidade e em que circunstâncias. Atenção: não transformar esta conversa num “interrogatório tipo policial”! Ele poderá responder, por exemplo, que o faz apenas ao fim-de-semana com os amigos ou que acontece só nas festas. Agradeça-lhe a sinceridade e, ao mesmo tempo, diga-lhe que a situação não lhe agrada de forma alguma, que prefere que ele não consuma mais e que nunca o vai deixar consumir em casa. Esta atitude pode parecer vã, mas um jovem precisa de se deparar com uma imposição, com um limite, mesmo que tenha a tentação de o transgredir. Porquê?
Porque é angustiante para um jovem quando sente que os pais não se preocupam com ele e que o deixam fazer tudo o que lhe apetece. No início, até pode ser uma situação agradável para o jovem, mas com a continuação isso não o vai tranquilizar nem ajudar a se desenvolver saudavelmente. Sem referências sólidas e sem constrangimentos cria-se ao jovem um ambiente que quase o condena à depressão e que o angustia ainda mais.
Porque o ultrapassar um limite, ao transgredir uma situação e não sentir nenhuma reacção por parte do adulto, deixa o jovem numa solidão e arrasta-o para um vazio que ele vai tentar preencher com a provocação. Provocação, esta, que vai aumentando cada vez mais porque ele precisa, para crescer, de confrontar o adulto. O problema coloca-se nos pais, que sendo eles próprios carentes afectivamente, procuram compensar esta falta dando ao jovem tudo o que é possível ou evitar uma confrontação com ele. Estas circunstâncias são mais uma razão para se pedir apoio nem que seja apenas para auxiliar um pai a interagir melhor com o jovem.
2º- Parte
Antes dos 15/16 anos não seja tolerante nem mesmo com o tabaco. Um jovem, antes destas idades, que começa a fumar fica muito mais sujeito a enveredar para o consumo doutras substâncias. O cérebro do jovem em vias de maturação não estabeleceu ainda todas as suas conexões neuronais, nomeadamente a zona do cérebro que controla os impulsos, que permitem avaliar as situações com as suas consequências e a de tomada de decisão adequada. Um jovem ainda não tem o “travão de controlo” a funcionar correctamente, necessitando do apoio dos adultos até o consegui fazer por si próprio e que pode levar até 18/20 anos de maturação.
As substâncias contidas em consumos psico-activos (álcool, tabaco, drogas) não facilitam estas conexões neuronais envolvidas no controlo dos impulsos e comprometem o sentido de responsabilidade na futura vida profissional, familiar e social. Acho que, actualmente, na nossa sociedade já enfrentamos adultos suficientes com falta de sentido de responsabilidade!
Durante a conversa, o jovem pode também dizer que fuma, ou que toma outra substância, apenas à noite para adormecer e só de vez em quando ou somente quando se sente sozinho ou, mesmo, que consome todos os dias, porque retira certas vantagens disso, como por exemplo, fazer com que se sinta bem, poder ter mais coragem, estar mais atento nas aulas ou conseguir ter mais amigos e que não há nenhum problema uma vez que ele sabe controlar-se. Veja, juntamente com o jovem, o documentário de testemunhos de adolescentes que fumavam cannabis e que também pensavam dessa forma. Quais forem as suas consequências na vida de cada um?
Proponha ao jovem irem consultar um médico ou um outro especialista para fazer o ponto da situação, justificando que não é muito normal ter que tomar algo para se sentir bem quando está sozinho, para ter mais coragem para enfrentar certas situações, para se relaxar, para descobrir sensações novas, para ser aceite num grupo ou para andar na moda. O objectivo é o de compreender qual é a dinâmica subjacente aos mal-estares do jovem e, noutros casos possíveis, levá-lo à reflexão e à responsabilização dos riscos que corre sobre a sua saúde física e psicológica.
Se o jovem souber que com a idade dele um dos pais também consumia, aproveite para lhe falar da sua experiência, da dificuldade que tinha em se controlar, do receio e do risco de se tornar viciado. Se hoje ainda fuma reconheça o seu problema de dependência, a sua dificuldade de se distanciar, e que não quer que ele também passe pelo mesmo. Acrescente que a melhor forma é a de não começar ou de acabar antes que isso se complique com o decorrer do tempo. Não cometa o erro de fumar ou de beber com ele, pensando que sempre é melhor fazê-lo com o pai do que com os outros pois assim poderá haver um certo controlo na situação. Esta atitude também não é a mais adequada porque o jovem precisa de construir o seu travão mental e está a ser impedido de o estruturar até mesmo em casa. Relembro que esse travão vai servir-lhe mais tarde, já na vida adulta, para muitas situações com que vai deparar.
Caso se aperceba que o jovem toma atitudes provocatórias, como por exemplo, deixar deliberadamente o maço de tabaco ou outra substância em cima de um móvel, não finja que não viu nada nem tome atitudes desabridas como resposta à provocação. Diga-lhe, calma e firmemente, que encontrou um maço de tabaco em cima do móvel, ficou preocupado e que quer conversar com ele sobre isso.
Não vale a pena dizer que o que ele consome é proibido, mas sim que se sente triste e se não quer que ele fume ou que consuma essas substâncias é porque o seu cérebro ainda se está a desenvolver e pode ser danificado. Se o jovem tiver confiança nos pais e houver um mínimo de autoridade em casa, ele será sensível a estes argumentos. Caso contrário, e insiste-se nisto, é melhor pedir apoio para a situação não se agravar.
De uma forma geral, manter uma linha dura, firme e coerente não é uma causa perdida nem que, como se pensa muitas vezes, quanto mais se insiste com o jovem mais se piora a situação. A conduta aconselhável é repetir o seu desacordo sempre que for necessário e isso ajuda-o a estruturar o seu travão mental à medida que o seu cérebro amadurece.
Da mesma forma, no decorrer da conversa não foque tanto o consumo da substância em si, mas procure perceber o que é que se está a passar com o jovem. Deixe-o expressar-se, ouvi-lo falar dos mal-estares, demonstre-lhe o seu interesse pela vida dele no âmbito das suas relações, dos comportamentos que tem tido ultimamente, das notas da escola, do abandono de certas actividades. Dê-lhe espaço e atenção para que possa expressar os seus sonhos, as suas ideias e algumas actividades que poderia gostar de fazer mas sempre sem o criticar ou desvalorizar. Para saber mais sobre a forma como pode apoiar o jovem para se desenvolver mais saudavelmente sugerimos que veja, no final do documentário, as sugestões que se apresentam.
Apesar de existirem pais que se identificam com certas situações aqui descritas não se pode deixar de lembrar que cada caso é um caso. Todas as situações requerem, de certa forma, ser personalizadas e não se pretende com este artigo ter a chave que abre a porta a todas as soluções, o que se deseja é atingir um melhoramento no relacionamento com o jovem para que ele desenvolva as suas competências de maneira a poder enfrentar a vida sem se prejudicar a si próprio nem aos outros.
Para finalizar, quero ainda sublinhar que quanto maior for a dificuldade do jovem em comunicar os seus mal-estares (psicológicos, afectivos, emocionais) mais se multiplica a procura de sensações fortes que o coloca em risco. Muitas vezes, a simples insatisfação da necessidade psicológica de se sentir aceite tal como é, leva-o a escolher um grupo consumidor. No início, o jovem nunca se torna dependente da substância mas sim do grupo para se sentir aceite pelo mesmo. (Veja a conferência em Lagos)
Aconselho também a ler, no mesmo site, os artigos:
– O Adolescente e o Ambiente Nocturno
– Perguntas Colocadas pelos Pais de Adolescente
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