O Álcool e o Adolescente
Como sensibilizar o adolescente perante o perigo do álcool? Será a prevenção eficaz nesta fase de desenvolvimento psicológico? Terá o beber uma função social de festejar um acontecimento, ou assinalará um ritual de passagem para a idade adulta, ou poderá ainda esconder uma provocação? Mas um copo a mais é o suficiente para o adolescente correr riscos de desencadear um acidente, um comportamento violento ou impulsivo, uma relação sexual desprotegida… e abrir uma porta ao fracasso escolar.
A atitude dos pais perante os excessos do adolescente deve ser realista, justa e de bom senso. Porque beber não é forçosamente patológico! Porém a partir de que idade e em que contexto será correcto fechar os olhos a esta situação para não se agravar mais? Como é que os pais podem estar melhor preparados perante este fenómeno que afecta tantos adolescentes? Quais podem ser as respostas a estas perguntas?
O que leva o adolescente a repetir o consumo de bebidas alcoólicas mesmo de forma exagerada?
São várias as características que se encontram subjacentes a este tipo de comportamento de consumo, aliás, como muitos outros tipos de dependências que poderão vir a instalar-se no adolescente. Vejamos algumas das características mais estudadas e presentes em todos os estratos sociais:
– Desde a infância, há uma dificuldade em estabelecer uma relação satisfatória com os pais. Adolescentes com comportamentos de dependência mantêm laços com os pais ora muito fusionais, ou seja muito unidos, ora muito isolados afectivamente. Ambos os laços parentais conduzem o adolescente a procurar uma “bengala” como objecto ou produto de substituição. E, no ponto de vista do adolescente, depender dessa bengala é sempre melhor do que não ter nada de sólido para enfrentar a vida.
– Adolescentes com comportamentos de dependência não souberam, e continuam a não conseguir, estabelecer as fronteiras certas com os outros. Têm dificuldade em se definirem como pessoa, distinta das demais. Têm uma identidade ainda vaga e com dificuldade em estruturar a sua personalidade.
– Esta falta de fronteiras psicológicas claras desencadeia dificuldades em identificar e em gerir as emoções. Por exemplo, aquilo que o adolescente pensa ser uma ira é na verdade uma tristeza e vice-versa. O não saber lidar com as suas emoções complica o alcance da consciência de quem ele realmente é. Neste contexto, os produtos consumidos compensam esta vida emocional confusa
– Todas estas dificuldades originam mais um problema: o da comunicação. Este tipo de comunicação passa a ser feito através do corpo (o excesso de álcool ou doutras substâncias, a superabundância de tatuagens, a bulimia, as compras compulsivas, etc.).
– Incapaz de se sentir bem com ele mesmo, com o seu mundo interior, o adolescente com este comportamento dependente recorre a substitutos exteriores. É uma patologia psicológica bem real na nossa época do consumismo, que incita um indivíduo a procurar no exterior a matéria, o objecto, os meios de consumo e de riqueza para se sentir bem com ele mesmo. A realidade exterior vem compensar a ausência de realidade interior. A sensação de vazio é-lhe insuportável, o adolescente tenta preenchê-la com o mundo externo e com os seus variadíssimos estímulos e produtos sem nunca estar saciado e suficientemente contente com o que possui.
Por estas razões, proibir e controlar um adolescente pode levá-lo a não enveredar pelo consumo do álcool, certo, mas, inevitavelmente procurar outros produtos de substituição, outra “bengala” ou outras sensações fortes que o podem destabilizar. Porque o problema não se encontra no produto em si, mas sim, na forma como a pessoa se está a desenvolver psicologicamente.
No entanto, deixar a situação arrastar-se ou entrar em conflitos conduz toda a família a mergulhar no sofrimento. Imperceptivelmente, os danos físicos, psicológicos e relacionais vão-se instalando. Quanto mais a situação se emaranha mais as relações se tornam violentas, perversas e o sentimento de impotência aumenta.
No século XXI, existem profissionais que sabem apoiar os pais a ultrapassarem estas situações e tantas outras desagradáveis. Porquê perpetuar mal-estares inúteis? E que alívio para os pais que fortalecem as suas competências parentais para compreenderem e para agirem mais eficazmente com situações com as quais se deparam.
Vejamos algumas razões mencionadas pelos adolescentes que os levam a consumir bebidas alcoólicas:
– Quando bebo sinto-me mais desinibido. Consigo mais facilmente ir ter com alguém, não tenho medo da rejeição, não receio o possível fracasso por ter que enfrentar um desconhecido. A timidez é como se fosse anestesiada. (Para um desenvolvimento equilibrado é necessário ser ele próprio e se alimentar dos outros e, ao mesmo tempo, diferenciar-se dos demais.)
– É uma forma de “limpar” a cabeça, para esquecer certas coisas desagradáveis. Até porque nem gosto do sabor do álcool (alguns termos utilizados para consumir: Binge drinking, alcopops).
– Quando bebo sinto-me mais tranquilo, os meus mal-estares esvanecem-se. (O adolescente precisa de se expressar numa relação de confiança.)
– Quando bebo tenho a sensação de não depender de ninguém, de ser mais autónomo, de ser auto-suficiente. (Beber, correr riscos, não é um indicador de independência ou de “liberdade”, pelo contrário, é um sinal de grande dependência e que não está a conseguir afirmar a sua diferença com os demais.)
– Quando bebo tenho a ilusão de ser todo-poderoso, de dominar o meu corpo. (A ilusão de poder esconde as suas fraquezas; ele é uma vítima da tirania dos seus desejos que não consegue controlar, gerir, repor para mais tarde e elaborar projectos para os manifestar no momento certo sem prejudicar ninguém.)
– Quando bebo ponho à prova a minha capacidade para resistir ou para existir (sobretudo quando a vida não lhe está a fazer nenhum sentido).
– Bebo para imitar os meus amigos, para não me sentir excluído e para me sentir aceite como sou.
– Bebo para obter sensações fortes e assim lutar contra o sentimento de tédio. (Esta procura de sensações fortes é frequentemente associada a perturbações dos impulsos, aos excessos de zanga, aos comportamentos de jogos patológicos e à cleptomania.)
– Se não beber quando saio à noite é como se a minha saída fosse um fiasco.
– Quando bebem os rapazes sentem-se invencíveis e as raparigas irresistíveis. (Há uma alteração da percepção da realidade o que aumenta o perigo.)
No século XXI, os pais podem estar melhor preparados para responder a estes apelos e a estas justificações do adolescente sem que ele recorra ao consumo do álcool. É a melhor forma para o adolescente enfrentar a realidade e para estar menos motivado a consumir bebidas alcoólicas. A não ser por razões pontuais de festejo.
Aconselho também a ler, no mesmo site, os artigos: “O Adolescente e o Ambiente Nocturno” ; “Perguntas Colocadas pelos Pais de Adolescentes” e Drogas na Adolescência…
No Youtube pode ver:
O Álcool e a Adolescência
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