Encarar o erro noutra perspectiva (com vídeo)
Porque é que, às vezes, existe tanta dificuldade por parte da criança em enfrentar ou em lidar com o erro? Porque é que ela por vezes desiste de tentar, fica sem vontade de realizar as tarefas, fica “presa” na frustração, promete que vai fazer e depois não faz, mente, tenta tudo para evitar a confrontação…? Como encarar o erro noutra perspectiva?
Quem é que não comete erros, especialmente uma criança? Já Jean Piaget (1896-1980), psicólogo e biólogo suíço, dizia que as crianças estão constantemente a pôr à prova as suas próprias ideias sobre o que as rodeiam. E disto resultam erros como é evidente. O errar e o aprender caminham lado a lado e não há dúvida de que as crianças nascem com sede de aprender. Os seus comportamentos servem o seu desejo de conhecimentos, de pesquisa e de curiosidade intelectual. Todos os seus circuitos neuronais estão predefinidos neste sentido. Então porque é que, às vezes, existe tanta dificuldade por parte da criança em enfrentar o erro?
Muitas vezes, é a incoerência, repetida e persistente, manifestada com o que a criança está a sentir com um determinado comportamento, que lhe é imposto ou atitudes por parte do adulto que desvalorizam a sua tentativa, que acaba por bloquear o seu desejo de aprender. Insidiosamente, vão-se formando bloqueios nos seus processos emocionais, que permanecem bem vivos na mente da criança à espera de serem expressados e finalizados, que lhe retiram a “energia” necessária para se dedicar ao prazer de aprender.
O caro leitor deve provavelmente estar a perguntar-se a si próprio, tendo em conta o parágrafo anterior, se não serão os adultos os principais responsáveis (de forma não consciente) pelos comportamentos inadequados da criança em lidar com os erros? Sim sem dúvida que são! Porque a criança precisa do adulto para sentir-se apoiada na sua tentativa de ultrapassar a sua dificuldade. É preciso ter sempre presente que é a criança que se encontra em crescimento e as atitudes do adulto próximo dela, quer se queira quer não, são determinantes para isso.
Quando a criança erra e para que ela mantenha, canalize, a sua energia para continuar a manifestar o seu desejo de aprender, não é aconselhável incutir-lhe medo, humilhações, gritos, dramatizar ou fazer comparações que a façam pensar que os outros são melhores do que ela. Uma boa forma para se evitar esta situação consiste em dar-lhe a atenção necessária para que ela se possa expressar, possa manifestar o seu desagrado, a sua frustração, sem tentar querer evitar o que está a sentir, mas, sim, ajudá-la a aceitar o facto. Esta maneira de agir, sempre sem a querer julgar, criticar, ou humilhar demonstra um interesse sincero por aquilo que a criança está a sentir e/ou nos está a dizer. Portanto, deve evitar-se a todo o custo interromper a criança quando ela começa a falar do seu problema impedindo-a, assim, de continuar a expressar-se. Claro que a intenção é boa mas tem um impacto contraproducente na criança: as incoerências acumulam-se originando nela crescentes mal-estares que em nada alimentam nem a sua autoestima nem a sua autoconfiança. Contudo, é fundamental que ela obtenha esta “alimentação” psicológica para ter energia e estar, assim, mais motivada para enfrentar os seus erros e aprender com eles.
Como se pode agir, então, mais detalhadamente, com uma criança?
Como primeiro passo, um olhar afectuoso permite à criança sentir-se compreendida e aceite no seu erro. Em certas situações, um abraço caloroso, do pai ou da mãe, é uma mais-valia para ela se sentir mais segura. A seguir pode-se ajudá-la a identificar e a verbalizar aquilo que está a sentir, por exemplo: “Estás triste!” ou ainda “Vejo que estás aborrecida, frustrada ou com medo.” E depois desta identificação emocional e da sua expressão, perguntar-lhe, por exemplo: o que é que ela acha da sua experiência, quais são as conclusões que se podem retirar, o que é que não correu bem? Desta forma, a criança ficará mais preparada para tirar proveito da sua experimentação, reflectir sobre a mesma e, indeclinavelmente, ficar mais motivada para a tentar novamente. Em certos casos, ela pode não saber como actuar e só depois de se lhe ter dado esta oportunidade de se expressar se deverá mostrar-lhe o caminho mais adequado para o fazer. Mesmo assim, à medida que a orientação for desenvolvida é conveniente estar sempre atento ao que a criança possa estar a sentir e dar-lhe espaço suficiente para se expressar ficando-se sempre vigilante à forma como ela reage e actuar sobre isso antes de continuar com o assunto. Porquê tanto cuidado? Porque se a criança se “desliga” mentalmente da conversa e se a mesma se mantiver ou se impor, então esse diálogo, torna-se infrutuoso. Se o adulto não se aperceber destas situações fica com a sensação de ter feito algo de bom mas que não corresponde à realidade. Um exemplo disto são os “sermões” que os nossos pais nos davam e que ao fim de 10 segundos já não estávamos a ouvir nada … de que serve um sermão se quem o ouve não o escuta?
Aconselha-se a ver, mais abaixo, o documentário de uma reportagem, no contexto escolar, sobre um actual estudo francês que revela o interesse pelo erro para se aprender e, ao mesmo tempo, o impacto do medo de errar nas crianças. A conclusão, na sua forma ainda hipotética, é que se a escola ensinasse à criança o andar de bicicleta, da mesma forma que a criança é enquadrada para aprender certos conteúdos, ou seja sem nunca cair nem errar, ela teria muita dificuldade em aprender a andar de bicicleta, ou mesmo até algumas nunca aprenderiam.
Aconselha-se a ler também, no mesmo site, os artigos intitulados:
– Como dar atenção à criança mesmo com pouco tempo disponível?
– Como valorizar uma criança para que se sinta aceite, compreendida e respeitada
– Como incutir na criança o gosto pelo esforço?
– A importância de se estabelecer regras e limites à criança
« Como e porquê desenvolver a criatividade da criança? | Home | Um consultor parental para quê? (com vídeo) »
Comments are closed.