Depressão ou Estado Depressivo Passageiro
A depressão é uma perturbação mental, mais especificamente do humor, que se tem vindo a alastrar na sociedade. É uma perturbação muito difusa e afecta, indistintamente, as pessoas de todas as idades e de todas as classes sociais. Como agir com esta situação desagradável? Será que uma pessoa sozinha consegue ultrapassar a depressão? Quais são os seus sintomas? Quando é que se deve consultar um técnico da especialidade? É a depressão provocada por factores externos ou será porque a pessoa já se encontra psicologicamente “fragilizada”? Por que é que a depressão afecta tanto uma pessoa? Se não se actuar, qual será o perigo para a sua saúde mental? Como devem reagir as pessoas mais próximas?
A palavra depressão é, muitas das vezes, banalizada para se designar apenas uma tristeza ou um estado mental depressivo passageiro. Mas é muito mais do que isso! É um sentimento de tristeza, uma desvalorização pessoal, que invade a pessoa continuadamente, com uma perda de interesse para a maioria das actividades que desfrutava antes podendo esta situação já vir muito detrás, semanas ou mesmo meses. Para outras pessoas os sinais da depressão podem ser simplesmente uma alteração (com aumento ou com diminuição) na quantidade do sono, do apetite ou do desejo sexual, ou também, uma fadiga persistente, uma perturbação da concentração ou da memória. A pessoa até pode ficar anestesiada às emoções ou reagir com grande susceptibilidade às situações da vida quotidiana. Para outras pessoas ainda, a depressão pode encontrar-se, subjacente ao consumo de álcool, de drogas ou a outras dependências, como escape (internet, jogos, compras compulsivas, trabalho ou desporto excessivo etc…). Muitas vezes sem se aperceber, é por estas vias que a pessoa tenta compensar a sua depressão. Tenta aliviá-la mas não a resolve… e vai resistindo sabe-se lá até quando!
Aonde é que a depressão conduz a pessoa? Conduz a pessoa ao isolamento, ao afastamento das suas actividades diárias impedindo-a assim de desfrutar a vida. Porém a manifestação da depressão tem um objectivo específico que é o levar a pessoa a olhar para ela própria. Pensa-se quase sempre que são os factores externos (perda de emprego, separação, morte de um ente-querido, entre outros) que estão na origem da depressão quando, na verdade, estes são apenas factores desencadeadores de mal-estares que se foram acumulando ao longo da vida (situações precoces traumáticas, problemas emocionais não resolvidos, carências afectivas, abandono na infância, etc…) e que, desta vez, atingiu um ponto crítico com mais uma situação desagradável.
Em certas situações, as causas da depressão podem ser bem visíveis mas noutras não são assim tão evidentes. Por exemplo, como classificar o desespero de alguém cuja reputação foi manchada (por perseguição psicológica)? Ou a quem foi destruída uma esperança profissional ou amorosa? Também nestas situações uma possível depressão não é de excluir. Ou então, como explicar situações dolorosas que colocam a pessoa prostrada, sem motivação nem desejos de continuar a viver? Por vezes a sensação de vazio é tão intensa, o sofrimento psíquico é tal forma forte que leva a pessoa ao suicídio ou, pelo menos a pensar nele como forma de alívio.
Uma vez a depressão “instalada” como se pode tirar partido positivo da mesma? O que parece ser um desmoronar do estado mental da pessoa ou um abandono de interesse pelas suas actividades deve ser encarado como um retraimento psíquico para que ela tenha mais consciência de si-própria. Em boa verdade, a vida actual da pessoa encontra-se perturbada mas é para a obrigar a colocar mais atenção nela, a ter mais cuidado de si-própria. É um apelo inconsciente da mente para que a pessoa se coloque no comando da sua vida.
Lamentavelmente a nossa educação, a nossa cultura, conduz a que a pessoa não deva pensar em si-própria, ou seja, negar-se como indivíduo. O que pode parecer até um paradoxo numa sociedade que alguns definem como cheia de egoísmo ou de narcisismo, porém ambos extremos existem. Esta negação constante de si própria provoca um sofrimento incessante que tenta ser compensado por inúmeros projectos, actividades ou mesmo crenças muito enraizadas, mas quando estes falham a falta de significado da vida, o sentimento de desesperança, o vazio existencial reaparecem.
Não se pode esquecer que cada caso é um caso. Daí a importância da pessoa ser apoiada e acompanhada por um técnico especializado não apenas para amparar a pessoa em sofrimento para que ela abra a “porta” aos seus recursos para à mudança, mas também para orientar aqueles que lhe são próximos porque não é fácil viver com alguém nesta situação. É frequente ouvir as pessoas mais chegadas, com a boa intenção de dar uma ajuda, dizerem: “Não fiques assim! Sai, distrai-te… Olha que há muitas pessoas que gostam de ti!” Porém este positivismo não vem ajudar o depressivo, daí a necessidade das pessoas mais próximas estarem melhor preparadas e reconfortadas para lidar com a situação.
A pessoa depressiva sente-se muita das vezes incompreendida e estes encorajamentos não são assimilados e vêm acentuar ainda mais nela a ideia de que ninguém a compreende isolando-se ainda mais. A sua visão da realidade pode ser tão escura que nem a leitura de versículos religiosos é recomendada porque tudo é interpretado, desfavorável e negativamente.
Uma cultura educacional secular culpabilizante como a nossa que considera o inconsciente repleto de “coisas más”, que devem ser controladas para se evitar castigos ou quando se foi educado com a crença de que não se deve pensar só em si próprio mas pensar também nos outros, torna difícil, neste contexto educacional, que uma pessoa depressiva possa pensar nela própria sem se sentir culpabilizada. Além disso, a pessoa neste estado de depressão sente-se incapaz de fazer seja o que for o que acentua mais, nela, o sentimento de culpa.
A depressão não é nenhuma fatalidade. Existem múltiplos aspectos de depressões dos mais ligeiros aos mais graves. Portanto, a depressão ou meramente alguns dos seus sintomas quando persistem não são para serem ignorados, como se nada fosse. É algo para ser resolvido e para ser seguido com cuidado devido à situação de grande fragilidade de restruturação psíquica em que a pessoa se encontra. Mesmo que a pessoa não tenha nem forças nem desejos de se cuidar, o que é normal neste estado, a prática ensina-nos que é suficiente um milésimo de forças para o primeiro passo.
“Por muito escura seja a noite não há nenhuma que não alcance o amanhecer”.
Shakespeare
Ver também o site do Dr. Hélder Mestre
Aconselha-se a ler também, no mesmo site, os artigos intitulados:
– O respeito por si próprio e o amar-se a si mesmo
– Mas o que é que eu faço de mal para ele não gostar de mim?
– Não seja vítima duma relação perversa narcísica!
– O que esconde a vontade de querer convencer?
« O Álcool e o Adolescente | Home | 1) Essa agora… apoiar os pais? Não seria melhor haver escolas melhor preparadas? »
Comments
É um artigo explicite, claro e fácil de coompreenção.
Transmite alguma esperança às pessoas, nada é irecuperável.
Especialmente hoje, as conjonturas económicas faz que as pessoas ainda mais os jovens são perdidos, depressivos e tornam-se grandes consomidores de substências psicotropes e outras derivativos que só agravem o estado psicológico…
Estes gerações e as populações de consomidores em geral só estavam habituadas a ter tudo, sem esforço e rapidamente. Chegamos numa outra “época” onde se deve reaprender a usufruir da natureza, a respeitar-la, ir ao fundo das coisas, encaxar a vida de outra maneira, reaprender a ser e não a ter…
Ai, o papel do psicólogo é muito imortante e será mais e mais necessário para reformatar asqueles cabeças… Uma grande crise esta a bater a nossa porta, a todos os níveis.
Parabéms para o artigo e bom coragem para esta missão importante.
M. B.
(desculpa pelos erros)
Acabei de ler o artigo sobre a depressão, que gostei muito e a minha opinião pessoal é a de que existem vários tipos de depressão conforme a maturidade mental de cada um.Existem pessoas que lidam toda a vida com depressões ” sem nunca irem ao fundo do poço”. Talvez porque tenham uma vida social ou familiar que as faça esquecer os seus problemas ou simplesmente porque são intelectualmente fortes e embora passem por períodos menos bons, conseguem sempre dar a volta por cima. Nestes casos concordo com o que chama de Estado Depressivo Passageiro. Também existem indivíduos que têm tudo para viverem felizes e no entanto estão sempre descontentes, nem eles sabem explicar porquê, a maioria necessita de acompanhamento psicológico e até tomar anti-depressivos. Por aquilo que eu conheço só com medicamentos o problema poderá resolver-se no momento, mas o individuo fica sempre frágil e mais tarde ou mais cedo o problema volta de novo, basta que tenha alguma contrariedade.Depois há os indivíduos que por ausência de uma vida social e familiar enveredam por caminhos menos bons, tornando-se perigosos para si próprios e até para os outros. Cada vez mais o desenvolvimento da sociedade, o querer parecer bem, o viver para as aparências, o não querer ter menos que os outros, acaba por incutir nos indivíduos uma situação de desespero e impotência que leva a estados de depressão profundos.
Cumprimentos
O artigo está muito interessante! Parabéns e Obrigada pela partilha!
O nosso Inconsciente é nosso Amigo e há que tirar i maior benefício daí.
Boa continuação!
Cumpriementos
muitos parabéns é um comentário real que se vive no nosso dia a dia e pelos tempos que decorem atualmente ainda mais em todas as classes sociais gostei muito desta partilha
os meus cumprimentos .
Em algumas situacoes problemas fisicos podem criar um desgaste e uma tensao demasiado grande sobre o corpo e sobre o sistema nervoso que desencadeiam ou agravam o estado depressivo. Nestas situacoes devem-se corrigir os diversos problemas fisicos. Infelizmente muitas das vezes nao existem quaisquer sintomas da sua existencia pelo que estes costumam passar completamente despercebidos.
Parabéns, este artigo é muito produtivo. Existem algumas depressões que são puramente químicas, do organismo mesmo, dos mecanismos do cérebro e repentinas, mas a maioria chega as poucos, com a mudança de estrutura de nossos cérebros, por nossa forma de enfrentar o mundo, ou melhor ” de não enfrentá-lo”. Vivemos em uma sociedade doente. Precisamos nos valorizar, respeitar e nos amar a nós mesmos, se não fizermos isto não podermos amar também aos outros e tendemos a nos tornar auto-destrutivos, depressivos, compulsivos ou isolados. Lendo esta artigo pude perceber o quanto meu ” eu” precisa passar por um processo de reestruturação. Muito Obrigada!
Leave a Comment