A frustração da criança e do jovem é uma dor de cabeça para os pais!
Perante um mundo super-estimulado como nunca o foi na sua história, os pais ficam ultrapassados com as exigências das crianças e dos jovens. Quem é que não fica confuso perante uma criança agitada, hiperativa, exigente, “alérgica” à frustração que impõe os seus desejos com uma imposição impressionantemente desconcertante?
Esta evolução da sociedade implica um apoio necessário aos pais para obterem as “ferramentas” necessárias para guiar e conter as crianças e os jovens, para não baixarem os braços ou incutirem maltratos psicológicos desnecessários. Certos pais interpretam estas atitudes dos filhos como se fossem uma autonomia. Na verdade, assemelha-se mais a uma vontade irresistível de dominar tudo e todos, destabilizando o desenvolvimento psíquico e relacional saudável da criança e do jovem. Por outro lado, outros pais preocupam-se, esgotam-se e culpabilizam-se, o que também não é favorável para ninguém. Donde vêm estas formas de lidar diferentes por parte dos pais?
É preciso notar que muitos pais não querem repetir as injunções, as obrigações, o autoritarismo da geração anterior que eles próprios viveram enquanto criança. Também é verdade que não é necessário repetir isso. Em nome do amor ou do respeito pela criança tentam atenuar o que interpretam como um sofrimento na criança. Querem ser um bom amigo dela e tentam racionalizá-
la. Esperam que a criança entenda e aprove com um sorriso. Só que esta lógica do discurso, de procura de empatia, é pouco eficaz. Pensa-se que porque sou o teu amigo é normal que haja reciprocidade. Que ajas comigo da mesma forma. Porém, a criança ainda não desenvolveu suficientemente as estruturas mentais para tal. Explicar-lhe racionalmente as coisas ou tentar entrar em relacionamento de amizade com ela não é pertinente, porque a criança, também debaixo da influência da emoção, não ouve nada nem tem acesso à lógica. Este procedimento, com boas intenções, incute na criança a desvalorização da autoridade paternal. O que pode originar surpreendentemente um futuro jovem que sabe amar e consciente deste valor, com uma aceitável autoestima, mas com uma fraca autoconfiança que o conduz a ter muitas dificuldades em enfrentar os obstáculos da vida.
Gerir a frustração aprende-se tal como o andar, o falar, a leitura e a escrita. A criança precisa de ser guiada e rodeada de adultos preparados para que isso aconteça. É uma prova já bastante difícil para a criança e não vale a pena acrescentar-lhe gritos, brutalidade, humilhações ou castigos. Cai-se no outro extremo, o do sofrimento, que leva a um futuro jovem adulto ressentido, vingativo, egocêntrico ou amargo perante a vida.
Qualquer adulto pode perder as estribeiras perante uma crise insuportável duma criança ou dum jovem, inclinado para a violência física ou psicológica. A criança tem a capacidade de tolerar um limite, de ouvir
um “não” que desencadeia a frustração nela. Mas quando ela suporta mais daquilo que é necessário, que vai além da sua capacidade de suportar, aí sim está-se a suscitar sofrimento nela. Nestas condições, será conveniente afastar-se mais da criança/jovem e deixar esta tarefa para um outro adulto, próximo da criança, melhor preparado ou pedir apoio para conseguir da melhor forma ajudar a criança ou o jovem a desenvolver a capacidade de gestão da frustração.
De qualquer forma, mimar, amar, estimular, desejar o melhor e proteger a criança é algo natural, mas quando se idólatra a criança, quando ela vive num contexto onde tudo é orientado para ela sem se lhe fazer entender a realidade, quando o seu bem-estar é sempre mais importante que os sentimentos dos outros, participa-se numa construção de poder na criança dificilmente controlável. Este futuro adulto vai encarar o mundo apenas como um meio para satisfazer o seu prazer. Vai desenvolver atitudes cada vez mais patológicas (que pode ir de uma ira irracional a uma angústia perante qualquer adversidade), de tirania e de sufocação emocional sobre os outros. Tornam-se indivíduos com tendência a ocuparem postos ou posições de poder.
A frustração é uma emoção que, popular e erradamente, se compara como se fosse um sofrimento. É, de facto, desagradável e, ao mesmo tempo, fundamental para se conseguir projetar no futuro, para se não ficar preso na procura do prazer imediato. Logo que esse prazer seja desfrutado segue-se a insatisfação. Entra-se num ciclo de interna insatisfação. Dificilmente, se desenvolvem as estruturas mentais necessárias para o sentimento de gratidão, de querer retribuir ao outro o seu bem-estar numa sociedade saudável.
Aconselha-se a ler também, no mesmo site, os artigos intitulados:
– A importância de se estabelecer regras e limites à criança
– Encarar o erro noutra perspectiva
– Como incutir na criança o gosto pelo esforço?
– Perguntas Colocadas pelos Pais de Adolescentes
– Separação Conjugal e o Prolongamento dos Conflitos (com vídeo)
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Comments
Mais um fantástico artigo do Dr. António Valentim, onde consegue transformar o complicado em simples, ou seja, num pequeno texto consegue, na minha opinião, ajudar nós pais a compreendermos a importância da criança viver a frustração para que esta tenha um desenvolvimento emocional/mental saudável.
Também como treinador de crianças e jovens estes conselhos ou dicas tem-me sido bastantes úteis no processo de ensino que utilizo bem como na forma como interajo com os pais.
Espero continuar a ler outros artigos como este!
Um grande abraço e obrigado
Realmente, educar é uma arte, e muitas vezes agimos intuitivamente mas ,a forma faz toda a diferença e nem sempre estamos a colaborar para a melhor formação de nossos filhos. Neste artigo o Dr. Antonio nos dá uma noção dos efeitos na criança de acordo com as diversas formas dos pais não saberem se posicionar,e é claro que sempre agimos a tentar acertar mas nos dias de hoje, sinto que realmente é fundamental reconhecer a importância de se pedir ajuda profissional,para descomplicar e acertar a forma mais construtiva de educar. Parabéns Antonio !
Admiro o teu trabalho ,
muito Obrigada !
um abraço
O conhecimento que o Dr. António partilha ajuda-nos a tentar compreender melhor as crianças hoje em dia, a simplicidade do texto leva a uma compreensão fácil,os pais têm aqui uma preciosa ajuda.
Muito obrigado.
Caro amigo António,
Como te tenho expresso, nos encontros e palestras em que nos cruzamos, o teu trabalho de investigação, reflexão e aprofundamento na área das relações interpressoais reciprocas entre pais e filhos, professores e alunos, educadores e educandos, faz escola na verdadeira acepção da corrente humanista. Neste artigo, claro, acessivel e objectivo, escolheste, mais uma vez, um tema de importância fundamental no actual contexto sócio-familiar, como saber lidar com a frustração em benefício do desenvolvimento dos jovens e simultaneamente visando o bem estar e o equilibrio dos intervenientes neste processo, pais e educadores. Mais uma vez, de forma sensivel e objectiva,ofereces ferramentas preciosas aos pais e educadores para se saberem orientar nesta tarefa difícil e complexa como é a de educar para a felicidade. Parabens e obrigado.
Até breve
Um abraço
Fernando Ildefonso
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